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Contágio (Contagion, 2011)

novembro 8, 2011

Por Bruno Pongas

Quem curte o cinema norte-americano certamente irá se identificar de cara com Contágio, afinal, é bem raro nos depararmos com nomes como Matt Damon, Marion Cotillard, Kate Winslet, Gwyneth Paltrow, Jude Law, Laurence Fishburne e John Hawkes no mesmo elenco. E o melhor, essa trupe toda é dirigida pelo competente Steven Soderbergh, o mesmo que comandou a trilogia Bourne e os premiados Traffic e Erin Brockovich – Uma Mulher de Talento.

Bem, mas vamos rápido ao que interessa! Logo no começo do filme somos apresentados a uma sequência de mortes enigmáticas – todas pelo mesmo motivo e em países diversos. Mais à frente, vamos descobrir que essas (e outras tantas) mortes vêm sendo causadas por um vírus geneticamente mutável e de total desconhecimento das autoridades. Basta somarmos as palavras vírus e desconhecido e nos deparamos com um panorama de caos absoluto.

Pois é! Alguém aqui se lembra de Ensaio Sobre a Cegueira? É quase impossível ignorar a semelhança entre Contágio e o best-seller do português José Saramago. Embora essas duas obras possuam temáticas diferentes, em ambas podemos observar a magnitude caótica de uma epidemia. Tanto Soderbergh quanto Saramago resgatam o extinto dos seres humanos diante da morte iminente. Neste cenário catastrófico, o homem é retratado como um animal irracional, que recorre a qualquer artifício para sobreviver sem se importar com o próximo.

Contágio ainda vai além do simples estado de caos e do extinto dos seres humanos exalando pelas ruas. A política aqui ganha fortes contornos e um tom de crítica por parte do diretor. A partir do momento em que a suposta epidemia cai na imprensa, é praticamente impossível controlar o povo – que esvazia os supermercados e abarrota as estradas em busca de sobrevivência. Enquanto as pessoas se descontrolam com a proximidade da morte, as autoridades parecem ainda mais perdidas em meio à crise. Diante disso, a pergunta que fica é: estaríamos preparados para algo devastador como o retratado pelo cineasta?

Mudando um pouco de assunto, a narrativa, que nos é apresentada numa sequência de dias, é de fato bem interessante. Tudo começa no Dia 2 e vai se desenrolando aos poucos. O grande enigma, como vocês podem perceber, está no Dia 1 e logicamente será revelado nos minutos finais. Soderbergh, por sua vez, conduz a história muito bem e abusa de recursos simples – como a música frenética e agoniante – para fisgar o espectador. A fotografia, cinzenta em alguns momentos, também contribui para deixar o filme com um ar apocalíptico.

É claro que também existem pontos negativos. A meu ver, um elenco com tantos nomes de peso merecia um pouco mais de destaque. Atores como Matt Damon, Kate Winslet e Gwyneth Paltrow têm seus momentos bons, claro, mas no geral acabam ficando em segundo plano. Também achei descartável a trama paralela envolvendo a personagem de Jude Law. Soderbergh aparentemente quis mostrar o poder que um veículo de mídia pequeno, como um blog, pode ter num momento como esses – o que é bem legal. Mas para mim, pelo menos, pareceu forçado demais.

No final das contas, Contágio me agradou bastante, principalmente por tentar se diferenciar dentro de um gênero desgastado. É comum vermos filmes apocalípticos com cenários devastados, grupos restritos de sobreviventes e só – sem nenhum conteúdo relevante. Soderbergh tentou fazer diferente e se deu bem – só por isso já merece ser aplaudido.

Amantes (Two Lovers, 2008)

setembro 2, 2009

Amantes (Two Lovers)

Por Bruno Pongas

O nome Amantes pode sugerir uma série de coisas: uma comédia romântica fútil no melhor estilo Adam Sandler, um draminha bobo sobre casais ou até mesmo aventuras sórdidas e picantes mundo afora. Os amantes de James Gray, no entanto, se destacam por muitos outros motivos. Sem risadas, sem clichês, sem nenhum artifício marcante típico do cinema contemporâneo norte-americano. Vemos aqui uma pequena obra-prima (sem receio algum em afirmar isso): encantadora por natureza, triste e cheia de elementos marcantes.

Amantes pode ser considerado muito mais do que um drama profundo entre casais. Vai muito além disso… é um estudo completo e minucioso de personagens – daqueles bem difíceis de se ver por aí. O que James Gray faz com seu Leonard (Joaquin Phoenix) é algo genial, sem exageros. O desenvolvimento psicológico ali contido nos remete aos grandes clássicos do passado, em que obra e personagem se completam numa simbiose quase que perfeita.

Podemos contar aí o bom trabalho de Joaquin Phoenix, que é um dos atores de primeira linha na hollywood atual (aliás, alguém sabe se ele já desistiu da carreira de rapper?). Phoenix encontra o tom ideal para o seu melancólico personagem. Seus sentimentos, misto de angústia e ansiedade, aparecem com muita clareza para o espectador – coisas que só excelentes intérpretes conseguem transmitir. A ajuda de Gwyneth Paltrow e Vinessa Shaw, as amantes, também é primordial para o bom resultado. Aqui, Gray utiliza todo o potencial de Paltrow, que demonstra seu talento com propriedade (ao contrário de Homem de Ferro, por exemplo, onde ela foi praticamente engolida pelo roteiro).

Falando em roteiro, vale ressaltar a qualidade do mesmo: uma história bem contada, imprevisível e com ‘suspense’ na medida certa… precisa de mais? Claro! A fotografia e a trilha sonora marcam outro ponto fundamental. A primeira, em tons escuros, pontua o clima amargo da trama. A segunda, por sua vez, colore as principais passagens com delicadeza e inteligência. Só achei (e agora como cricrítico mesmo), que Gray deveria se apegar um pouco mais a um aspecto: como um personagem igual ao Leonard tem uma atitude semelhante à que lhe deixou naquele estado melancólico? (me refiro à atitude de sua ex-noiva). Talvez tenha sido um ato impensado de alguém que buscava cegamente amar e ser amado. Ao meu ver, entretanto, faltou um pouco mais de cuidado com esse ‘conflito’.

Amantes é daqueles filmes que pintam raramente por aí. James Gray mostra todo seu potencial com um trabalho quase perfeito, se destacando como um dos tops cineastas da atualidade. Exagero? Quem sabe… se ainda falta muito para ele chegar na lista dos melhores, pelo menos com esse novo trabalho ele galga muitos degraus. Na onda do badalado Anticristo, quem parece roubar a cena é um dos que haviam sido pouco falados até aqui. Ah, e antes que reclamem, achei o final bem legal, mesmo pendendo nitidamente para o happy end. Sinceramente? Eu preferi assim!

Minha Nota: 10.0

Direção: James Gray
Gênero: Drama
Duração: 100 minutos
Elenco: Joaquin Phoenix, Gwyneth Paltrow, Vinessa Shaw, Isabella Rossellini, Elias Koteas, Moni Moshonov, Samantha Ivers, John Ortiz, Bob Ari e Julie Budd.