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Import Export (Import/Export, 2007)

maio 12, 2009
Sem perspectiva no gelado Leste Europeu, jovem ucraniana busca melhora de vida através da pornografia via internet

Sem perspectiva no gelado Leste Europeu, jovem ucraniana busca melhora de vida através da pornografia virtual

Por Bruno Pongas

Estreou nesta sexta-feira no circuito brasileiro o longa austríaco Import Export. Datado de 2007, o filme chega ao Brasil apenas dois anos após ter passado pelas salas europeias e chocado espectadores no concorrido Festival de Cannes e nas mostras de cinema pelo mundo. O diretor Ulrich Seidl busca aqui fazer um retrato do atual cenário europeu de forma pessimista e chocante, apelando muitas vezes para o tragicômico – efeito que consegue suavizar algumas cenas. Para se ter uma ideia, na sala de cinema onde eu estava, diversas pessoas se sentiram incomodadas com o teor pesado do longa e foram embora antes mesmo da trama atingir sua metade final.

Import Export conta duas histórias paralelas de jovens (uma ucraniana e um austríaco) insatisfeitos com a vida que levam em seus respectivos países. Sem grandes perspectivas, ambos enxergam numa viagem pela europa a chance de tudo mudar completamente. Olga (Ekateryna Rak), nascida na gélida Ucrânia, ex-república soviética, é enfermeira na sua cidade natal; no entanto, a vontade de melhorar de vida faz com que ela se sujeite ao mercado negro da pornografia na internet. Daqui surgem as cenas mais fortes do longa, que em nenhum momento poupa os espectadores das cenas de exibicionismo sexual (nada fica oculto, nada mesmo!). Sem sucesso na empreitada, Olga muda de país, vai para a Áustria – país com qualidade de vida superior à Ucrânia (é daqui que surge o título do filme, que tem nos fluxos migratórios uma de suas vértices principais).

Do outro lado está o jovem Pauli, que faz o caminho oposto de Olga. Ele vive na Áustria, mas a falta de emprego o causa crescente desconforto. Aqui, o diretor austríaco Ulrich Seidl faz uma crítica à própria sociedade de seu país, que, apesar de apresentar uma melhora constante nos índices internacionais de desenvolvimento e qualidade de vida, ainda sofre com os resquícios de uma sociedade hierárquica e destruída pelo sofrido período da Segunda Guerra Mundial. Sem muitas alternativas e devendo dinheiro para colegas, Pauli aceita viajar com seu padrasto – figura da qual reserva certo repúdio -, em um trabalho que envolve o transporte de máquinas de apostas para o leste europeu.

Logo na primeira passagem da dupla, em Kosice, lado leste devastado da Eslováquia, vemos um cotidiano diferente do que estamos acostumados a acompanhar quando o assunto é Europa. Aqui, Seidl faz um retrato muito interessante da pobreza existente no velho continente. Nada de belas imagens e pessoas bonitas, como a TV busca incessantemente nos passar. A realidade dos países frios do leste europeu é bem triste, e lembra em muitos momentos a pobreza que preocupa continentes como África e América do Sul. Para colorir de tristeza a trama, a fotografia em tons frios entra em contato direto com as temperaturas negativas e provoca um efeito nostálgico e melancólico no espectador – o tragicômico viaja ao trágico em cerca de segundos, como na cena em que Olga, já na Áustria, fala ao telefone com sua filha pequena que ficou na Ucrânia.

Import Export possui muitos pontos positivos, seja como retrato aberto de uma sociedade caótica ou pelo registro documental de um continente que também sofre as agruras do subdesenvolvimento e o massacre impiedoso das potências capitalistas. Pessimismo e determinismo? É inegável que Ulrich Seidl enxerga o continente europeu sob uma perspectiva totalmente negativa, mas seria ilusório de nossa parte ignorar que ali está o retrato de uma Europa  esquecida e menosprezada, e que sim, ela existe e está bem debaixo dos nossos olhos. A pornografia em suas mais variadas formas e tudo de grotesco que se possa imaginar servem apenas como pano de fundo para esse retrato, pois têm o poder de chocar e causar aquele estranhamento meio negativo, meio positivo, que sem dúvida fica na memória e estimula a refletir. Talvez Seidl tenha pecado pelos excessos, pois realmente existem cenas muito fortes e vulgares no longa; no entanto, sem esse teor chocante, Import Export seria mais um daqueles filmes que denunciam problemas sociais de uma forma óbvia e bem humorada, só que sem um pingo de originalidade.

Minha Nota: 8.0

Direção: Ulrich Seidl
Gênero: Drama/Comédia
Duração: 135 minutos
Elenco: Ekateryna Rak, Paul Hofmann, Michael Thomas, Maria Hofstatter, Natalya Baranova, Georg Friedrich, Erich Finsches.